Pedagogia Waldorf: o que é isso, afinal?

Por: Mayara Penina

Por Carolina Delboni

Crianças de diferentes idades estão na mesma turma assim, pequenos de dois anos convivem com crianças de quatro anos.

A pedagogia Waldorf não é um bicho de sete cabeças, apesar de ser completamente diferente do que a maioria das pessoas tem como referência de escola. O ensino e a forma podem parecer estranhos aos olhos leigos, mas a pedagogia tem muito a nos ensinar. Seja do ponto de vista pedagógico ou humano. Existe uma premissa no ensino que é formar seres humanos. Antes de querer formar alunos que tiram notas altas. É o que está por trás do conceito “educação para a liberdade”.

Nas escolas Waldorf, as crianças têm aula de tricô, euritmia, aprendem alemão e tocam instrumentos de cordas, como violoncelo e violino. São alfabetizadas apenas com sete anos e nenhum professor usa livro didático ou caderno pautado. As crianças trocam o lápis pela caneta tinteiro inicialmente, só pintam com aquarela e usam mochilas de couro que foram feitas por seus pais. Os alunos não levam bolachas recheadas, doces e trash food nas lancheiras. Suco de caixinha nem pensar! Pães, só integrais. No pátio, brincam de brincadeiras tradicionais. Parece coisa de cidade do interior. Crianças do quinto e sexto anos ainda jogam taco no recreio e brincam de pega-pega, por exemplo. A arquitetura da escolas propicia o brincar de corda, casinha, perna de pau, entre outras coisas que as crianças inventam. Um lugar que foi pensado levando em conta o livre brincar e que coloca pequenos desafios de autonomia e desenvolvimento corpóreo a favor do autoconhecimento.

Os brinquedos são confeccionados de materiais sempre naturais como madeira e lã.

Tudo foi pensado em 1919, pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner, que a pedidos do dono de uma fabrica de cigarros, a Waldorf, no pós guerra, desenvolveu a pedagogia. Daí vem o nome.

As escolas e professores possuem grande autonomia para determinar o currículo, mas claro que são ministradas aulas de português, matemática, geografia e história.  O conteúdo indicado pelo MEC – Ministério da Educação é dado e seguido. Mas a forma e a intensidade são completamente diferentes das escolas tradicionais e construtivistas – principalmente.

E o que, de fato, essa pedagogia pode trazer de benefícios à formação da criança que chama tanto atenção assim?

“Ela é educada de forma a observar seu desenvolvimento em três âmbitos: corporal, anímico e espiritual”, explica a professora Marina Negrão, da escola Jardim das Borboletas, localizada na zona sul de São Paulo. “O currículo todo é desenvolvido nesse sentido. Respeita-se aquilo que cada criança tem como potencial, tudo flui de forma harmônica e orgânica”, pontua. O aprendizado acontece de forma a respeitar o que a criança vivencia dentro dela e no mundo. “Ela não é privada de nada, mas tudo é apresentado no momento certo, quando a maturidade corporal, anímica e espiritual existe”. Isso quer dizer no pensar, sentir e querer. Quer um exemplo? A criança não vai aprender computação quando nem sequer aprendeu a pular corda e ter o domínio do próprio corpo. Quando a criança, organicamente, começa a se questionar sobre sua origem,  ela tem no currículo “”a criação do mundo”. No quarto ano, as crianças têm mitologia nórdica para poder alimentar os questionamentos para a passagem pelo Rubicão – ou, como chamamos, a pré-adolescência.

Sem muito perceber, a criança vai preenchendo sua alma de autoconhecimento. O aprendizado do conteúdo é quase que uma consequência. E, no futuro, pode-se esperar um ser humano mais harmônico, mais equilibrado em suas emoções. Porque aprendeu, desde pequeno, como lidar com suas vontades e limites. O simples brincar de subir em árvore exige que a criança faça escolhas, como o galho em que vai pisar. E todas as escolhas têm consequência. Assim é na infância, assim é na vida. Conhecer o peso do seu corpo, saber o quanto sua perna estica e se seu braço terá força pra pendurar naquele galho, parecem coisas bobas. Mas olha quanto quanta consciência tem aí. Isso é o educar para a liberdade. Liberdade de escolhas e vontades. Liberdade em saber onde começa seu espaço e onde é o do amigo. Em ser companheiro, em ser participativo, colaborativo. “No pensar lúcido, o sentir equilibrado, o querer ativo, a vontade forte e o entusiasmo sempre presente”, finaliza Marina.

Existem atualmente mais de mil Escolas Waldorf no mundo e cerca de dois mil jardins de infância, localizados em mais de 60 países, sendo assim um dos maiores movimentos educacionais independentes do mundo . Clique aqui para conhecer a escola mais perto de você.

Conheça o Jardim de Infância Acalanto na cidade de Holambra, em São Paulo.