ANS quer aumentar taxa de partos normais pelos planos de saúde

O incentivo, por parte de órgãos de saúde e autoridades do setor, ao parto normal, envolve uma série de fatores e grupos atuantes – médicos, enfermeiros, hospitais, governo, planos de saúde, etc. Ou seja, para garantir uma cultura de parto vaginal, sem interferências, o investimento, de dinheiro e informação, deve atingir toda essa pirâmide.

No início desta semana recebemos uma boa notícia: a Agência Nacional de Saúde (ANS) quer aumentar a participação das operadoras de planos de saúde na promoção de partos normais.

O parto natural traz uma série de benefícios não só para a mulher, como para o bebê.

Vale destacar que, a partir do programa Parto Adequado, 62 das operadoras já estão engajadas no processo de redução do número de cesáreas na rede particular de saúde – cada uma tem ao menos um hospital credenciado, que disponibiliza infraestrutura e orienta médicos e gestantes sobre a escolha do modelo de parto.

Com a medida, ideia é que, além de incluir mais maternidades no projeto, as operadoras também tenham ações para toda a rede de conveniadas – como defendeu à Exame a gerente do programa na ANS, Ana Paula Cavalcanti: “Além de expandir, monitorar os resultados no conjunto das suas beneficiárias, fazer indução em toda a rede de maternidades”.

Em 2017, quando foi implementada a segunda fase do programa, o número de partos normais cresceu 6,3%. Entre as mulheres nos 127 hospitais participantes do projeto, o percentual de partos vaginais chegou a 47%. Com a iniciativa, o objetivo é também reduzir o número de cesáreas eletivas, que podem ser ruins tanto para a mulher quanto para o bebê.

Para mudar a cultura da cesariana, é preciso trabalhar protocolos e procedimentos dos hospitais, das equipes obstétricas.

“O que acontece na cesárea desnecessária? Ela é marcada antes do trabalho de parto. A mãe não está preparada, o bebê não está preparado. O pós-operatório da mãe é muito pior do que se ela tivesse um trabalho de parto, e um parto normal”, disse a coordenadora do projeto, no hospital Albert Einstein, Rita Sanchez.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cesárea é indicada em aproximadamente 15% dos casos, porém, esse percentual chega a 85% na rede de saúde privada.

Rita acredita que, para mudar essa cultura é necessário mudar a forma como se trata a cesariana: “Fazer a revisão de todos os protocolos. Para aqueles que estão fazendo só cesárea nas últimas três décadas adquirirem novamente confiança no parto normal”.

Enquanto as indicações reais de cesárea correspondem a apenas 15%, na rede pública brasileira 85% dos partos são cesarianas.

Paulo Borem, diretor do Institute for Healthcare Improvement, disse que o próprio sistema de saúde é o responsável por induzir as gestantes à cesárea:

“Percebemos que, na verdade, a maioria das gestantes do início da gestação queriam o parto vaginal, mas mudavam a cabeça a partir do primeiro contato com o sistema de saúde. Como o sistema de saúde foi, ao longo dos anos, sendo desenhado para entregar cesarianas, o sistema de saúde não quer assistir um parto vaginal, porque incomoda toda a estrutura que foi criada em torno da cesariana”.

A medida da ANS é muito importante e mais um passo na evolução da cultura de parto no Brasil. Caminhamos, ainda que lentamente, para avanços não só em termos de saúde, como nos direitos das mulheres.

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