Deixar a criança se sujar melhora a imunidade, diz pesquisador

Chupeta que cai no chão e volta direto para a boca. Cachorro que lambe o rosto dos bebês engatinhando. Criança com a mão suja de terra chupando o dedo. Todas essas cenas são comuns da infância. Ainda assim, são preocupações recorrentes dos pais.

Para apaziguar o instinto protetor das mães, pais e cuidadores, estudos apontam que nem todas essas preocupações são necessárias e, mais do que isso, apontam que o excesso de higiene pode trazer até malefícios para a saúde dos pequenos.

O estudo do ‘microbioma’, ou seja, os micróbios que habitam o nosso corpo, é um campo da ciência que vem explodindo nos últimos anos. A proposta é analisar qual o papel dos micróbios no sistema imunológico e provar como a falta deles pode se associar a problemas como asma, obesidade, diabetes e até autismo.

Emanuel Sarinho, presidente do Departamento Científico de Alergia da Sociedade Brasileira de Pediatria, afirma, em entrevista ao jornal O Globo, que a recomendação desmedida de antibióticos, por exemplo, também afeta o sistema imune. “Antibiótico só atua contra bactérias, e muitas vezes as crianças têm quadros virais. Esses remédios são maravilhosos, mas seu uso não pode ser banalizado, justamente porque eles matam também as bactérias do bem”

O pesquisador defende que, principalmente nos primeiros anos de vida da criança, é importante deixá-los expostos a certas “sujeiras” para criar respostas imunológicas e desenvolver resistência.

Os micróbios têm um papel importante no sistema imunológico, daí a importância de deixar as crianças se sujarem sem preocupações excessivas, defende o pesquisador.

“Precisamos pensar no que é mais importante na promoção da saúde: nos mantermos afastados dos micróbios ou sermos imunes a eles?”, questiona, referindo-se a uma tendência atual no sentido de melhor a resposta imunológica, que é diminuir a prescrição de antibióticos para estimular a imunidade natural das crianças.

Essa exposição aos “micróbios bons” é fundamental durante a primeira infância, argumenta o pesquisador que, além de contar casos e citar pesquisas, defende que a exposição a determinadas sujeiras ajudam a melhorar a microbiota (bactérias, vírus e fungos nanturais do organismo) dos filhos.

Limpeza x Desenvolvimento

No livro “Let Them Eat Dirt” (em tradução livre, “Deixe as crianças comerem terra”), Brett Finlay, microbiologista da Universidade de British Columbia, no Canadá, defenda a importância dos micróbios na primeira infância.

Apesar de parecer um exagero à primeira vista, o título se refere à importância de deixar as crianças livres para brincar, se sujar, descobrir a natureza, os animais, sem preocupações excessivas com limpeza. Segundo ele, o “excesso de higienização do mundo” é recente, uma tendência de 30 anos para cá.

Em entrevista ao Catraquinha, a psicóloga Isabel Gervitz, do Laboratório de Educação, afirma que o conceito de sujeira é uma construção histórica e cultural. “Compreendemos a sujeira como um ‘desvalor’, e percebemos isso em vários aspectos ligados à infância, como a preocupação excessiva dos adultos com o fato de a criança se sujar ao brincar”. Leia a entrevista completa aqui.