Que lição podemos tirar da briga na ciclovia na porta da escola?

Essa semana circulou na internet um vídeo mostrando uma discussão entre um homem que buscava sua filha na escola e uma ciclista. O fato ficou conhecido depois de Ingrid Godoy, a ciclista, publicou seu relato sobre o ocorrido com o vídeo, na última segunda-feira (6), denunciando que pais de alunos de uma escola particular na zona sul de São Paulo não estavam respeitando a ciclovia.

Mas, o que isso tem a ver com as crianças? Fomos conversar com as autoras do livro infantil “Casacadabra“, a arquiteta Simone Sayegh e a jornalista Bianca Antunes. A obra fala sobre arquitetura e urbanismo acolhedor às crianças e ensina que o espaço público é um lugar de conflito. Mas também de aprendizagem, solidariedade, encontro e compartilhamento.

O espaço público pode ser um lugar de conflito, mas também de aprendizagem, solidariedade, encontro e compartilhamento.

Segundo elas, para conviver em harmonia nos diferentes territórios com as diferentes maneiras de usar a cidade é preciso gentileza e tolerância. “É isso que precisamos ensinar para as crianças. Quanto menos gentileza e tolerância, mais as leis se fazem necessárias. Só que as leis são feitas por especialistas, de forma piramidal”.

Sendo assim, a dupla defende que deve existir planejamento participativo, em que todos integram a construção das cidades. “Se uma pessoa que é contra a ciclovia senta ao lado de um ciclista antes daquela ciclovia ser implementada, elas poderão discutir a melhor saída. É assim que se vive numa cidade”, explicam.

As autoras também trabalham ministrando oficinas para as crianças com a temática urbanismo. “As crianças são parte fundamental da sociedade e precisam estar envolvidas nessa relação entre as pessoas e o urbano, entender que a cidade é dela e de todos. Ela é parte fundamental da cidade hoje, é quem vai construí-la amanhã, e provavelmente irá construí-la com o que viu e aprendeu”, ponderam.

Raiva

Outro ponto comentado e discutido nas redes sociais é que tudo aconteceu na frente de uma criança, que presenciou as trocas de ofensas. O Catraquinha também foi conversar com a Denise Franco, psicóloga especialista em educação emocional, que analisou a situação:

Quando a raiva aparece em forma de intolerância retira de nós a capacidade de reflexão, de pensar e decidir qual é a melhor decisão. Retira a capacidade de pensarmos de forma criativa e racional sobre o fato, e nos faz tomar decisões impulsivas.

Ela explica que quando você ensina a criança a refletir mais, a pensar outras possibilidades para resolver um conflito quando ela está com raiva, você está ensinando a ela que o mundo pode sim esperar, que ela pode respirar antes de tomar decisões, e que um conflito tem outras possíveis e criativas soluções.

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