Caso MAM: julgamentos e tantos views protegem crianças do abuso?

A polêmica em torno da performance do MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo – trouxe para a pauta nacional questões como nudez, arte e censura. Com duras opiniões, pessoas acusaram o artista de pedofilia e erotização infantil, questionaram o museu e criticaram a mãe da menina por expor a criança àquela situação.

A troca de ofensas chegou à agressão física em protestos. Em meio ao debate acalorado sobre a performance, o vídeo da menina interagindo com o homem nu na exposição viralizou na internet. Afinal, a divulgação do vídeo – que foi visto por milhares de pessoas – não é uma exposição nociva da criança?

Para o promotor Eduardo Dias, da Promotoria de Interesses Difusos de Crianças e Adolescentes, sim. De acordo com ele, as imagens divulgadas no vídeo expuseram a criança a uma situação de “vexame e constrangimento” e descumprem o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

MPSP vai investigar divulgação de vídeos.

A psicóloga Rosely Sayão, em entrevista à Revista Veja, também se manifestou sobre a polêmica. “O maior problema, no meu entender, e ninguém parece preocupado com isso, é que a garota está super-exposta”, diz Rosely. “Ela poderia ter passado por esse evento do MAM sem sobressalto, vê-lo como um episódio curioso e depois acabar se esquecendo dele, mas agora não vai poder esquecer”, disse.

Após uma chuva de denúncias na ouvidoria do Ministério Público (MP) de São Paulo, o órgão pediu que as empresas Facebook e Google retirassem da internet os endereços com imagens e vídeos em que aparecessem a criança, gravados durante a performance do artista, na abertura da mostra “35ª Panorama da Arte Brasileira – 2017”, do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM).

Quem compartilhar os vídeos a partir de agora pode ser punido e até acusado de pedofilia. As empresas, no caso, terão até dez dias para cumprir a medida.  O MP também está investigando a questão da classificação indicativa da exposição e se o museu informou o conteúdo da performance de acordo com as normas.

Rosely Sayão, para a revista Veja, também falou sobre os julgamentos que a mãe da menina, que a acompanhava na exposição, recebeu. “Todo mundo está julgando essa mãe sem tentar entender por que ela deixou a filha participar da performance e que existem pessoas que pensam diferente no mundo, que cada um e cada família é de um jeito”.

Muitos dos comentários e críticas relativos à postura da mãe questionavam se experiências como a vivida pela menina na performance contribuiriam para normalizar o contato sexual com adultos, e assim deixar crianças ainda mais vulneráveis a possíveis abusos.

Em entrevista ao Catraquinha sobre o tema, Caroline Arcari, autora do livro “Pipo e Fifi”, que trata do assunto do abuso sexual com as crianças, ressaltou que é o diálogo com as crianças e o contexto que definem o efeito que uma determinada experiência fará no desenvolvimento e na saúde emocional e psicológica da criança.

“Longe de julgar a mãe que levou a criança à performance e desejando que ela tenha conversado com a filha de que aquele foi um momento único e que, em outros contextos, a privacidade, o respeito ao corpo, os limites quanto às partes íntimas devem ser respeitados, ressalto que a prevenção da violência sexual se dá por meio do diálogo claro, honesto, contínuo”, afirma.

Essa não foi a primeira vez que uma mãe foi duramente julgada nas redes sociais após um desconhecido compartilhar algo em suas redes sociais. Em 2016, uma foto de uma mãe usando o celular, enquanto seu bebê está deitado no chão do aeroporto, viralizou e rendeu à mãe todo tipo de ofensa. Algum tempo depois, veio à tona a história por trás da foto. 

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