Escola e família devem mediar a relação das crianças com a internet?

Entre os 100 canais de maior audiência no Youtube, 36 ofereciam conteúdo direcionado ou consumido por crianças de zero a 12 anos. Quando considerados os 110 principais canais infantis, o número de visualizações passava dos 20 bilhões.
Entre os 100 canais de maior audiência no Youtube, 36 ofereciam conteúdo direcionado ou consumido por crianças de zero a 12 anos. Quando considerados os 110 principais canais infantis, o número de visualizações passava dos 20 bilhões.

O Instituto Alana acaba de protocolar no Ministério Público Federal do Rio de Janeiro uma ação contra 15 empresas de setores como brinquedos, vestuários, material escolar e turismo, por conta de publicidade dirigida ao público infantil no You Tube. E os números não deixam dúvidas, as crianças estão, cada vez mais, nessa rede social. Recente pesquisa realizada pela coordenadora do núcleo de Famílias e Tecnologia do ESPM Media Lab, da Escola Superior de Propaganda e Marketing, Luciana Corrêa, revela que, entre os 100 canais de maior audiência no Youtube, 36 ofereciam conteúdo direcionado ou consumido por crianças de zero a 12 anos. Quando considerados os 110 principais canais infantis, o número de visualizações passava dos 20 bilhões.

“A formação dos sujeitos está cada vez mais descentralizada com a internet e as informações ao alcance”, alerta o psicanalista e líder da área de humanidades e direitos da ESPM, Pedro de Santi. Para ele, existe uma grande necessidade de mediação entre os conteúdos da internet e as crianças, e esse papel deve ser desenvolvido com o apoio das famílias e das escolas.

“O que é muito atual é a ideia da inversão da ‘cultura de massa unilateral’ – o cinema, a tv, o rádio – que na internet ganha outro movimento, em que a pessoa se apropria de algo e vira autor. Isso certamente é criativo. Por outro lado, há a questão da dependência, pois no caso dos youtubers reconhecidos, o sucesso deles depende do olhar do outro, a cada post se espera desesperadamente por essa aceitação”, avalia.

De acordo com o especialista, na fase dos 3 aos 7 anos, é importante aprender a lidar com a frustração, quebrando a sua onipotência. Nesse sentido, o sucesso de youtubers mirins na rede social, alcançando muitos acessos, pode ser prejudicial. Outra questão pode estar relacionada ao próprio dinamismo da rede, como Pedro também avalia. “Como é um ambiente rápido e que permite acesso a tudo, pode ser que as crianças também tornem-se mal acostumadas a esperar, a ser pacientes”, coloca. O fato é que não faltam dualidades na relação estabelecida entre crianças e adolescentes com a internet. “Veja que se por um lado esse ambiente permite acesso absoluto a informações e promove o desenvolvimento de habilidades em uma perspectiva criativa e inovadora, por outro, pode diminuir o interesse por linguagens simbólicas um pouco mais complexas, como a leitura”, analisa.

Com informações de Centro de Referências em Educação Integral.