Religiões afro: escola é o espaço de maior discriminação

Por: Catraca Livre

Do nosso parceiro Portal Aprendiz

Em 2003, foi implementada a Lei 10.639, que garante a introdução da cultura e da história afro-brasileira e africana no currículo escolar. No entanto, o que se vê na prática é diferente: preconceito e intolerância quando o assunto são as religiões de matriz africana.

A constatação vem da pesquisa de Stela Guedes, doutora em educação e autora do livro “Educação nos Terreiros – E como a escola se relaciona com crianças de candomblé”. Ela também vai ministrar o curso “A escola e o terreiro: diversidade e educação antirracista em pauta” em São Paulo neste mês.

Em entrevista ao portal Aprendiz, Stela comenta as dificuldades que as crianças que seguem essas religiões enfrentam no ambiente escolar, onde frequentemente não têm sua opção respeitada por alunos e professores. “A escola, que é o lugar dos diferentes entre si por natureza, deveria ser o lugar mais preparado para não só lidar, mas também para aprender profundamente com essas diferenças. Infelizmente não é”, diz.

Para ela, uma das origens desse problema está ligada ao fato de que a escolarização pública segue marcada pelo “espírito da catequese”. Ela lembra que o ensino esteve, desde 1549, nas mãos dos jesuítas e, depois, quando deixaram o país, passou para as mãos de outros setores da igreja.

Crianças de religiões afro dizem que a escola é o espaço de maior discriminação
Crianças de religiões afro dizem que a escola é o espaço de maior discriminação

Stela ressalta, ainda, que, para combater esse problema, é preciso olhar para os espaços sociais e entender todos eles como racistas: “O mais fundamental é entender que fomos educados em uma escola branca, cristã e racista. Então a pergunta deve ser ‘Que tipo de impactos e consequências a nossa sociedade e, portanto, a nossa educação racista nos trouxe? Que tipo de relações criamos?'”.

Outro ponto importante diz respeito à ideia de tolerância: “A escola não tem de tolerar pessoas as quais considera diferente de sua lógica hegemônica. A escola precisa reconhecer que a vida no planeta é constituída por seres humanos diferentes. A escola é o lugar dos diferentes e, por ser esse lugar, a escola é um lugar tenso, porque não há harmonia na diferença e nem pode haver”.

Assim, de acordo com a especialista, o caminho é buscar a convivência respeitosa no ambiente escolar, o que só acontecerá se todos os tipos de conhecimento forem colocados no mesmo patamar de importância.

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