Contos de fadas x histórias reais: como crianças aprendem mais?

Por: Mayara Penina

Artigo publicado originalmente no Aeon Ideias e traduzido pelo nosso parceiro Portal Aprendiz via Creative Commons

As crianças têm muito o que aprender. Pode-se dizer que este é o propósito da infância: garantir às crianças um tempo protegido para que elas possam se concentrar em aprender como se comunicar, como o mundo ao seu redor funciona, que valores sua cultura considera importante e por aí vai. Dada a quantidade massiva de informação que as crianças precisam absorver, pareceria recomendado que eles passassem o máximo possível deste tempo engajadas em estudar seriamente as questões e problemas do mundo.

Ainda assim, qualquer um que já tenha passado tempo ao redor de crianças sabe que elas dificilmente têm a aparência de acadêmicos sérios e focados. Ao invés, as crianças passam muito do seu tempo cantando canções, correndo por aí, fazendo bagunça – isto é, brincando. Para além de participarem da grande alegria de descobrir como a estrutura do real funciona através de suas brincadeiras exploratórias, as crianças (como muitos adultos) também tendem a ser profundamente atraídas por jogos e histórias irreais. Elas fingem ter superpoderes ou habilidades mágicas e imaginam interações com seres impossíveis, como sereias e dragões.

Por muito tempo, tanto pais como pesquisadores supuseram que esses “voos de fantasia” eram, na melhor das hipóteses, inofensivos episódios de diversão – talvez necessários para a descontração de quando em quando, mas sem qualquer propósito real. Na pior das hipóteses, alguns defendiam que tais momentos eram distrações perigosas da importante tarefa de entender o mundo real, ou manifestações de uma confusão pouco saudável sobre a barreira entre realidade e ficção. Mas agora, novos trabalhos no campo da ciência do desenvolvimento mostram que não apenas as crianças são plenamente capazes de separar realidade e ficção, mas também que a atração por situações fantásticas pode na verdade ser bastante útil para o aprendizado.

Branca de Neve, por Anne Anderson (1874-1930)
Branca de Neve, por Anne Anderson (1874-1930)

Eu me aproximei dessa perspectiva após testar diversas maneiras de ensinar novas palavras ao vocabulário de crianças da educação infantil em programas do Head Start, na esperança de combater o déficit de linguagem que existe entre crianças de pré-escola de contextos socio-econômicos altos e baixos. Para fazer meu estudo, minha equipe apresentou novas palavras de vocabulário ao longo de uma atividade de leitura compartilhada, e depois reforçou os significados dessas palavras em sessões de brincadeiras tuteladas por adultos.

A intervenção foi bem-sucedida, e o entendimento das crianças das novas palavras melhorou – o que foi comprovado por testes feitos antes e depois da experiência. Mas o que foi mais interessante para nós foi a diferença entre os dois grupos de crianças deste estudo: aqueles cujas histórias descreviam temas realistas, como cozinhar, e aqueles cujas histórias descreviam temas fantásticos, como dragões. No começo do estudo, publicado em 2015 na revista Cognitive Development, as crianças sabiam menos sobre as palavras dos livros fantásticos, talvez porque tais palavras eram mais desafiadoras. Mas vimos que o conhecimento lexical das crianças aumentou ao longo da intervenção e, nos pós-testes, elas sabiam tanto destas palavras quanto daquelas contidas nas histórias realísticas. Isso é, as crianças ganharam mais conhecimento das histórias fantásticas do que das realísticas.

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