Pós-parto: ‘É preciso ter paz para enlouquecer de forma saudável’

O período do pós-parto é um período de mudança, de (re)conhecimento de um outro ser, muitas vezes de angústias, e também de cansaço. Muito cansaço. Entender como uma mulher se sente nessa fase para outras pessoas, que eventualmente não passaram por essa experiência, requer um exercício de empatia, acolhimento e muita escuta. Hoje, compartilhamos o relato e  a reflexão de uma mãe, a jornalista Fernanda Aranda, que tem duas filhas gêmeas, e um bebê recém-nascido, sobre sua experiência e aprendizados relativos ao pós-parto.

No texto, compartilhado em sua página do Facebook, Dose dupla, ela fala sobre a falta de tempo para suprir suas próprias necessidades básicas (como ir ao banheiro e tomar banho), mas também sobre como essa dificuldade, para ela, foi um desafio que superou.

“Para mim, a maior barra do puerpério e pós-parto é ter de escolher qual necessidade básica você vai priorizar. Comer, ir ao banheiro, tomar banho, dormir deixam de ser atos naturalmente fisiológicos e passam a ser programados ou encaixados entre uma demanda ou outra do bebê. Quando além do filho recém nascido existem outros filhos maiores, esta equação maluca ganha mais fatores… Lendo tudo isso, você pensa, é natural enlouquecer…Mas é aí que eu te digo. Não é isso que nos enlouquece estruturalmente. Isso exige uma adaptação, desenvolvimento de ferramentas de gerenciamento, rede de apoio…mas isso a gente dá conta. E nem demora tanto tempo… O que ninguém fala ou se atenta é que, mais do que natural, é desejável que a gente enlouqueça. Mas para isso é preciso ter paz para enlouquecer de forma saudável”, relatou.

“Não é isso que nos enlouquece estruturalmente. Isso exige uma adaptação, desenvolvimento de ferramentas de gerenciamento, rede de apoio…mas isso a gente dá conta”
“Não é isso que nos enlouquece estruturalmente. Isso exige uma adaptação, desenvolvimento de ferramentas de gerenciamento, rede de apoio…mas isso a gente dá conta”

No post, ela levanta uma reflexão sobre o peso dos estereótipos e das expectativas em relação a o que é ser “uma boa mãe”, e sobre como isso torna essa fase, o puerpério, ainda mais difícil. “Há um estereótipo materno dominante, uma solidão perversa e silenciada imposta às mulheres e também uma incrível desvalorização do papel da maternagem, somos privadas da naturalização da loucura após o parto. Em troca, nos dão modelos irreais de mulheres mães… Mas em vez da licença para a loucura, as mulheres ganham mais obrigações de desempenho”.

Ao final, ela sugere algumas reflexões para outras mães, e para companheiros de mulheres no pós-parto:

“Mulheres não damos conta de tudo. Mesmo. Insistir nisso não é heroico. Só nos faz adoecer. E quando a gente adoece, ninguém vem aqui pagar boleto. Então, aceite com mais leveza algumas renúncias”

“Companheirxs: dividir tarefa é um grande passo dentro da dinâmica atual. Mas é muito mais que se faz providencial…. Nos suportem para que a gente enlouqueça naturalmente e em paz! E ah! Não acreditem nos elogios que recebem por “trocarem a fralda” ou “darem banho”. Estes biscoitinhos, em geral, são proferidos por quem não sabe que ser pai é mais. É dito Por gente que ainda acha que vocês só servem para fazer isso. E vocês podem e devem muito mais. Pensem: se a mulher mãe não seria elogiada pelo que te parabenizam, então não é elogio. É só uma perpetuação de desigualdade”

Confira o post na íntegra:

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